O leite condensado na receita da perda de foco na gestão de crises. Artigo de Otavio Novo
Informações recentes sobre os gastos do Executivo nacional em compras de alimentos foram a principal movimentação nas redes sociais nos últimos dias.
As informações dão conta de um aumento de 20% nas compras de alimentos para diferentes órgãos do governo federal em relação ao ano anterior, chegando a R$1,8 Bilhões na compra de produtos aparentemente supérfluos como chicletes, batata frita, refrigerante, pizza, vinho , entre outros.
Junta-se a isso o fato de que alguns custos da lista publicada no site da Transparência Nacional, em princípio, se apresentaram desproporcionais havendo indícios de super superfaturamento.
E por fim, algumas informações publicadas, a confirmar, revelam inconsistências nas informações de compra em relação a estrutura das empresas contratadas com algumas manifestações dos seus proprietários negando os negócios e os recebimentos milionários pelos produtos.
As informações são relevantes e devem ser investigadas e esclarecidas rigorosamente e utilizando os aparatos adequados, para que se estabeleça o que já deveria estar acontecendo naturalmente, ou seja, o foco no que é prioritário.
Esse é ponto chave.
Quando uma crise se estabelece, especialmente aquelas que trazem maior responsabilização dos seus atores, é comum haver, ou aqueles esperam que haja, uma mudança providencial e conveniente de foco para que as atenções e energia se movam para outro ponto, dando assim tempo e capacidade de minimização dos impactos aos gestores e seus interesses.
Esse tipo de estratégia vem sendo adotada repetidamente por diversos gestores em posições de tomada de decisões e faz parte de uma ideologia danosa e bem conhecida na gestão de crises que é a confiança na memória curta e na capacidade limitada da sociedade de acompanhar todas as questões relevantes em curso.
Obviamente e sem que seja necessário qualquer estudo ou mapeamento de riscos aprofundado, o foco sempre deve ser no problema confirmado e em curso, que traz maior grau de impacto e que demonstra a total incapacidade/omissão na sua mitigação e controle.
Ou seja, o foco deve ser a pandemia, seu contexto amplo, impactos e a imediata necessidade de reação.
As atenções devem recair sobre as vidas que estão, a cada minuto, sendo ceifadas por falhas e ações criminosas em curso, a perda de capacidade econômica da sociedade, a inoperância na condução e tratativas para as soluções, as restrições orçamentárias que significam a limitação para minimização das perdas e para retomada e etc.
Na realidade, a polêmica do leite condensado é providencial para que as responsabilizações citadas acima deixem de ser destacadas e cobradas como devem.
A capacidade de mapear riscos e crises simultâneos, considerando suas variações de prioridade é fundamental para seja dada a atenção adequada para cada situação e se alcancem os resultados necessários em cada frente dosando a energia dispendida.
Afinal, assim como aquele quitute doce e cheio de calorias vazias atrapalha o apetite para o almoço nutritivo, o desvio de atenção também tira a nossa capacidade de se alimentar do que realmente irá nos fortalecer para ser capaz de enfrentar a vida e seus desafios mais urgentes.
Absorver e utilizar energia de acordo com as prioridades é sempre o caminho mais saudável a seguir.
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