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Artigo Otavio Novo – A “Carne Fraca” e a importância da sinergia no setor de turismo

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Por Otavio Novo:

No último dia 17 de março foi deflagrada a operação “Carne Fraca” pela Polícia Federal. Considerada a maior operação já realizada pela PF, com a atuação de aproximadamente 1 mil policiais federais, cumprindo 309 mandados em seis estados e no Distrito Federal. Diversas empresas, inclusive as maiores do mercado de proteína animal, e representantes do Ministério da Agricultura, estariam envolvidos em atos ilícitos para, basicamente, possibilitar a comercialização de carne imprópria para o consumo, por intermédio de crimes envolvendo empresários, profissionais da área e representantes dos orgãos públicos de fiscalização. Imediatamente após o anúncio da operação por parte da PF, as informações passaram a circular pelos meios de comunicação, trazendo dúvidas, insegurança e indignação para milhões de consumidores nacionais, e também, para o mercado mundial de carnes, que representa o terceiro maior volume de vendas brasileiras para o exterior, com exportações de aproximadamente US$ 13 bilhões, segundo dados do Ministério da Indústra Comércio Exterior e Serviços.

Sem dúvidas, todos sabemos da sensibilidade dessa situação, mas qual seria a relação dessa crise no setor de carnes com o mercado de turismo e hospitalidade no nosso país? E, diante dessa situação delicada, o que podemos aprender com esse caso tão comentado ultimamente? Começemos pela segunda pergunta.

De acordo com as práticas de gestão de riscos e crises, poderiamos citar alguns pontos relevantes nesse caso sobre as condutas noticiadas, e que devem ser revistas por todos os profissionais que atuam, ou podem atuar, na gestão de qualquer situação de crise. Entretanto, nesse artigo, vamos focar em um ponto fundamental para a gestão de crises: Preparação para as crises:  A importância da sinergia entre a empresa e as organizações públicas e privadas do setor do turismo e hospitalidade.

Conforme informações oficiais, as investigações da operação “Carne Fraca” já duravam cerca de dois anos, ou seja, tempo suficiente para que esses riscos fossem conhecidos, mapeados, monitorados, prevenidos e bem geridos, já que trata da sensível e importante relação entre poder público e produtores de itens de primeira necessidade. Casos como esse, demonstram que as empresas, os orgãos de representação do setor e as autoridades públicas responsáveis, sempre devem investir em mais controle e comunicação diante dos riscos existentes. 

As organizações privadas, desde empresas ou suas associações de representação, sejam fornecedoras de produtos e serviços ou as suas empresas clientes, devem, sempre mapear, prevenir e acompanhar os riscos importantes, para proteger essas atividades. E diante disso, ser mantido um compromisso, claro e compartilhado com as autoridades públicas, para o desenvolvimento de práticas de proteção das atividades de cada negócio.

Sob o ponto de vista estratégico da gestão de crises, não há concorrência quanto a prevenção de riscos de grande sensibilidade, pois os impactos negativos de uma crise importante podem atingir setores inteiros e/ou a sociedade. Para o setor de turismo essa ideia é especialmente verdadeira, por isso,  a união das empresas dessa atividade é essencial.

E com relação a primeira pergunta, “mas qual seria a relação dessa crise no setor de carnes,  com o  mercado de turismo e hospitalidade no nosso país?”, feitas as colocações acima, parece indiscutível o alto nível de impacto à sociedade, reputação e aos negócios brasileiros. Tanto no sentido da preocupação e prejuizos para o consumo interno, assim como, para importadores estrangeiros desses produtos. E esse quadro têm consequências diretas no turismo e hospitalidade.

A forma mais rápida de percepção dos impactos diz respeito aos estabelecimentos de comercialização e postos de vendas do produto. A alimentação é peça fundamental de qualquer experiência turística e os alimentos são itens da formação da cadeia produtiva da geração de riquezas da hospitalidade, e diante de uma crise desse tipo, pode haver diminuição de clientes diretos, assim como de viajantes a trabalho que atuam nesse mercado. E essa situação se potencializa pela já restrita situação econômica pela qual o setor de turismo e o país passam. E para que cada um de nós possa agir de forma objetiva e preventiva nessa situação, seguem alguns pontos de atenção importantes para empresas do setor de turismo ou outros, com base em alguns critérios de gestão de riscos e crises:

1 – Todas as empresas devem estar cientes das ameaças diretas e indiretas que sofrem na atividade que exercem. 2 – Os riscos relacionados a itens fundamentais, como alimentos, são de extrema importância e devem constar nos mapeamentos de riscos realizados. 3 – O mapeamento de riscos deve ser discutido, avaliado e sua prevenção e ações de resposta em caso de cenários de crises, devem ser colocadas em prática de forma efetiva. 4 – Fornecedores de produtos ou serviços para as atividades fim, devem fazer parte dessas ações preventivas, e devem ser cobrados quanto a qualidade e responsabilidade, por intermédio de comunicações, atos contratuais e ações conjuntas, para a apresentação de medidas de segurança com relação aos produtos fornecidos. 5 – A sinergia entre empresas e/ou suas associações representativas com orgãos do poder público relativos ao risco, deve ser organizada, para fortalecimento conjunto dos setores e negócios.

As reações de cada participante do mercado atingido por uma crise sempre farão a diferença quanto aos impactos percebidos e a recuperação das atividades atingidas. De toda forma, a operação “Carne Fraca” tem o importante papel de apoiar a moralização das relações entre empresários, poder público e consumidores, e é mais uma demonstração do longo caminho que temos pela frente no sentido de vivenciarmos e oferecermos aos visitantes um ambiente seguro e responsável. A boa notícia, entretanto, é que esse caminho é possível.

O  Brasil e o mundo estão atentos aos desdobramentos dessa situação, e à espera de providências para que a segurança alimentar dos consumidores de carne seja garantida, e os negócios, importantes para a sociedade brasileira, não sejam prejudicados. Nesse momento de dificuldades, cabe a cada um de nós observar e aprender com a situação, assim como, agir proativamente e prevenir os riscos sob nossa responsabilidade e, dessa forma, fortalecer todas as atividades que farão diferença para nossa sociedade, negócios e para a boa imagem do nosso país.

Otavio Novo é advogado, profissional de Gestão de Riscos e Crises, com 16 anos de atuação em empresas líderes nos setores de serviços, educação e hospitalidade. Durante 6 anos foi responsável pelo Departamento de Segurança e Riscos da Accor Hotels para cerca de 300 hotéis e 15 mil colaboradores em nove países da América Latina. 

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